sábado, 1 de janeiro de 2011

Cornucopia - Full Horn 1973


     
A idéia de que a apreciação musical exige um aprendizado é um pensamento que me acompanha há tempos, e dificilmente abro mão. O prazer que se tem ao escutar uma boa música não é imediato, pressupõe uma atividade subjetiva, seja ela qual for, que viabilize a obra ser percebida devidamente.
É claro que, como Hume já nos havia dito, a educação estética, o desenvolvimento dos sentidos, a disposição de um amplo acervo de outras obras que permita a comparação, são elementos necessários para tornar um homem um autêntico crítico. No entanto, com relação às formas artísticas que envolvem o tempo, a necessidade de alguma espécie de conhecimento prévio para a formação do espectador é acentuada. No cinema, esta condição se torna evidente, o fracasso comercial dos filmes “difíceis de assistir” é presente, a primazia dos elementos estéticos do filme em relação ao que o torna agradável e inteligível é decisiva para sua exclusão dos cinemas populares. Atualmente, o sucesso de um filme está intimamente ligado ao seu caráter de entretenimento, isto é, o recurso irrestrito a elementos extra-cinematográficos para torná-lo atrativo. A música, talvez, seja prejudicada em menor medida, os recursos técnicos e financeiros para sua criação é incomparavelmente que ao cinema, podendo oferecer ao seu criador uma maior independência criativa. Não quero, porém, desviar a discussão para o que de fato ocorre nos meios artísticos atuais, até porque não poderia fazer mais do que levantar meras hipóteses.
 A questão que realmente me interessa é a relação entre o tempo, ao qual a música depende, e a apreciação musical. Não é exagerado dizer que o tempo é condição existencial da música, isto é, o tempo é o lócus onde a música encontra sua materialidade. Ademais, na medida em que a música se estrutura no tempo ela toma sua própria forma: uma essência fragmentada. A música se encontra infinitamente dividida em partes cuja existência é absolutamente independente uma das outras. Cada instante em que a música aparece revela uma parte material de algo cuja essência a transcende. Mais radical é o caráter canibal desses fragmentos, cada um deles é determinado por uma exigência essencial de que seu antecessor seja completamente aniquilado. O devir temporal só oferece lugar para uma fração da música de cada vez, sendo a morte de uma dessas partes a própria condição de sua existência, até que seu ultimo fragmento tenha uma vida igualmente fugaz. É assim, condenada a cruel provisoriedade, que a música se revela.
Isso significa que a música não existe, nem pode existir, em sua totalidade. Sua completa existência exige seu próprio devir. A totalidade da música é resultado de um processo subjetivo, cujo sucesso não é gratuito.
Para adiar a discussão, oferecendo ainda um mínimo de conclusão, deve-se dizer: É justamente essa necessária intervenção do sujeito na constituição da música que vai conferir ao “conhecimento” um papel decisivo na apreciação musical. Etapa que adiarei para o próximo post.

Quanto ao presente download, ele é um desse álbuns difíceis de se gostar. Fui gostar dele recentemente, de forma inusitada, depois de ficar muito tempo sem escutá-lo.


1. Day of a Day-Dream Believer (19:50)
- a. Humanoid robot show
- b. Hope - Part one
- c. Disillusion
- d. Hope - Part two
- e. Death of a clown
- f. D-daily review
- g. Night, night - Mankind's motor-dream
- h. The sound of national caughing
2. Morning sun (version 127) (3:07)
3. Spots on you, kids (12:37)
4. And the madness... (4:05)

Total Time: 39:39

- Wolfgang Bartl / bass, backing vocals
- Wolfgang Gaudes / drums, percussion, acoustic guitar
- Christoph Hardwig / keyboards, guitar, backing vocals
- Rudy Holzhauer / percussion, troot
- Wolfgang Kause / lead vocals
- Harry Koch / effects, percussion, voice
- Kai Henrik Möller / lead guitar, acoustic guitar, backing vocals
+ Jochen Petersen / saxophones, flute, guitar


Download Mediafire - 34MBRapidshare - 72MB

2 comentários:

  1. Lucas,eu deveria refletir melhor sobre o assunto antes de emitir qualquer opinião, mas algumas coisas que foram ditas,talvez eu discorde. Primeiro, eu acho que a música pode (e deve) ser apreciada de infinitas maneiras e não apenas a partir de uma educação musical (que também é válida). Acho que uma outra importante (se não for a mais importante!) forma de apreciação de uma música é a que envolve nossa intuição, nosso contato imediato e irrefletido com a música. Quanto ao imediato vc parece concordar (" O prazer que se tem ao escutar uma boa música não é mediato..."), mas quanto ao irrefletido, acho que não irá concordar, já que acha que é preciso uma educação para que se possa apreciar devidamente uma música.... Bom, vou ler a segunda parte e comento o resto por lá...

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  2. Não descordo do que falou felipe, nem meu texto. hehe.Não posso explicar melhor, mas o aprendizado de que me refiro é bem especifico, não se trata de um elitismos ou eruditismo... ao longo do texto vou explicar que tipo de conhecimento é esse, pelo menos é isso que me proponho a fazer!

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